domingo, 1 de maio de 2016

Poema e Bolo

Há muitos, muitos anos, ainda em fase de revolta rebelde intergeracional, transcrevi e ofereci este poema à minha mãe.
Para lá da intencionalidade da mensagem que na altura quis transmitir, é um belo poema.

Poema à Mãe                     Eugénio de Andrade
                                                                 em "Os amantes sem dinheiro"

No mais fundo de ti
eu sei que traí, mãe.

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras 
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o coração,
ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? - às vezes
ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

Ainda oiço a tua voz:
            Era uma vez uma princesa
            no meio de um laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.


Mãe é mãe todos os dias, não há folgas, nem domingos ou feriados. Não há dia de mãe.
Ser mãe é muito mais que uma ocupação a tempo inteiro.
Mesmo depois dos filhos irem às suas vidas e já não dependerem da mãe, ela não o deixa de ser, de ser mãe.
Mãe é cais, é porto seguro, onde os filhos podem sempre regressar porque para ela nunca chegaram a partir completamente.
Mãe é um laço que não se desata, é um bem querer que não termina jamais.
Mãe é amor.


Bolo de limão com framboesas e mirtilos





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