terça-feira, 24 de março de 2015

Lemon and Fresh Fruit Curd Tartlets

Ideias nunca me faltaram.
Umas mais loucas que outras, umas fantasiosas, outras banais.
Algumas deram-me boas oportunidades e resolveram problemas ou desafios.
Por uma razão ou outra, a maior parte ficou arquivada ou esquecida na minha cabeça.
Durante muitos anos não assumi a criatividade na cozinha, em vez de dizer _ criei este prato, dizia _ fiz isto à minha maneira. 
É verdade que as minhas versões sempre foram bastante apreciadas, e meu toque geralmente melhorava as receitas.
A criatividade também se revela numa forma diferente de fazer, um método também pode ser inovador.
O que mais gosto na cozinha é a magia da mistura dos ingredientes, as combinações possíveis ou improváveis. Por vezes é subjectivo o conceito de combinações perfeitas mas o resultado pode ser surpreendente.
Essencial é dominar as técnicas e conseguir imaginar junções de sabores e cheiros.
Também é preciso sorte e perseverança porque nem sempre se obtém os melhores resultados à primeira.
A meu ver, nos salgados há mais margem para o improviso e nos doces tem de haver mais rigor.
Ao fim de imensas experiências consegui fazer a massa perfeita para tartes e tarteletes doces. Para o recheio juntei um creme de limão com polpa de fruta fresca. E para finalizar decorei com merengue italiano queimado.
Assim, apresento a minha Colecção Primavera 2015.

Tarteletes de Creme de Limão e Fruta Fresca
Clementina
Mirtilo
Manga
Morango

domingo, 15 de março de 2015

Primeiro desafio culinário

Depois, nas férias de verão, começámos a ir para outras praias Sesimbra, Praia da Luz, Manta Rota e o esquema já era diferente. A miudagem ficava o tempo todo, geralmente um mês, e os adultos iam-se revezando conforme os compromissos de trabalho.
No verão dos meus 17 anos, depois de passar um mês na Praia da Luz fui, com outros tios e primos, mais duas semanas para a Manta Rota.
Nesse ano eu estava super bronzeada, mesmo morena, de tanto sol que apanhei.
Não me recordo porquê, pois nunca tive o hábito de me gabarolar mas a fama das minhas lulas recheadas fez com que num belo dia eu fosse desafiada a fazer o almoço.
A compra dos ingredientes foi feita no mercado ao pé da praia, tudo fresquíssimo.
E fomos para a cozinha, eu e as minhas tias.
Eu era a chefe e elas muito queridas ajudavam a picar as cebola, os alho, a pelar  tomate, uma trabalheira porque o prato é complicado e a quantidade era muita, para dez pessoas.
E o almoço tardava pois o recheio faz-se primeiro, depois enche-se as lulas e volta-se ao princípio de outra tomatada. Eu orientava as tias, tomava decisões, calculava as quantidades e os tempos, eu temperava e juntava os "pózinhos de perlimpimpim" como ainda costumo dizer.
E o almoço tardava mas já cheirava bem. E enquanto as lulas apuravam fizemos o puré de batata à minha maneira e uma grande salada de alface.
Entretanto a miudagem, a prima E e os homens chegaram da praia.
O meu primo JM, trocista como só ele, começou logo a dizer à mulher para lhe preparar qualquer coisa para comer porque não confiava na minha falta de habilitações para cozinhar e que a comida não ía ficar capaz, e isto e mais aquilo, e não se calava com a chacota.
Se eu não o conhecesse de ginjeira, teria ficado ofendida, mas assim fiquei apenas ligeiramente melindrada e enchi-me de brios para que tudo ficasse perfeito.
E ficou.
As lulas tenrinhas, doces e picantes, mesmo saborosas. 
O puré com a consistência certa acompanhava e acolhia o molho das lulas voluptuosamente. 
A salada bem temperada refrescava o prato. Perfeito.
Todos comeram satisfeitos e repetiram a dose elogiando o meu jeito precoce para a cozinha.
O meu primo JM que já tinha comido uma sandes, sentado na cadeira de balouço troçava ostensivamente e tardava em vir para a mesa.
Por fim, após grande insistência das tias e da prima E, sua mulher, lá se sentou à frente de um prato servido com parcimónia e provou, degustou e comeu, e olhou para mim com uma expressão de satisfação e espanto que nunca mais esqueço.
E quis repetir mas já não havia mais. 
Ah! Ah! Ah!



quarta-feira, 4 de março de 2015

Memórias culinárias da infância - croquetes e mousse de chocolate


E a minha mãe? Não, definitivamente não foi a minha mãe a inspiradora do meu gosto pela culinária.




Ela sempre disse que não gostava de cozinhar  apesar de o fazer bem.
Quando casou parece que não sabia sequer estrelar um ovo, por uma lado porque nunca se interessou pela cozinha mas principalmente porque a mãe, a minha avó A, nunca a deixou aproximar-se do fogão na sua casa.
Depois lá foi aprendendo sobretudo com a irmã, a minha tia G.
Na minha infância o que eu mais gostava era dos seus croquetes e da mousse de chocolate.
Como já disse eu não era nada gulosa quando era miúda, praticamente não comia doces, nem chocolate.
Quando andava na escola primária, não sei porquê, enjoei o leite. Nessa altura ao pequeno almoço como era obrigada a beber, juntava uma colherzinha mal cheia de nesquik, apenas o suficiente para disfarçar o sabor do leite mas o mínimo para não ficar achocolatado. 
Por isso gostava da mousse da minha mãe que levava muitos ovos, açúcar e claras muito bem batidas em castelo e não tinha um sabor demasiado intenso a chocolate.
Os croquetes sim, eram maravilhosos. Feitos por um processo que eu ainda hoje utilizo e acho que ficam melhores do que quaisquer outros.
Claro que eu com o meu jeito e o meu gosto, direi mesmo paixão, ainda os faço mais perfeitos.
Dirão - "Presunção e água benta... cada um toma a que quer...", mas olhem que não, e estou disposta a prová-lo.


segunda-feira, 2 de março de 2015

As técnicas culinárias do meu pai

Enquanto a avó A viveu lá em casa o meu pai quase não tinha autorização de cozinhar, mas ele gostava muito de fazer uns petiscos, principalmente aos fins de semana.
Na cozinha, e não só,o meu pai tinha umas minúcias processuais com uma lógica muito própria.
Foi ele que me ensinou que para temperar uma salada simples de alface ou tomate espalham-se primeiro umas pedrinhas de sal, depois salpica-se com vinagre - para começar a dissolver o sal, e só depois se juntava o azeite. Ainda hoje assim procedo a menos que faça um molho ou vinagrete mais elaborado; então misturo os ingredientes dentro de um frasco com tampa, agito bem para emulsionar e fica pronto para deitar nas saladas.
Quando eu era miúda tínhamos uma torradeira vulgar com a resistência ao centro e duas tampas laterais com mola onde se colocava o pão. O seu método era indicado para pães pequenos tipo carcaça; primeiro colocava a metade do pão com a côdea virada para a resistência e depois virava para torrar o lado do miolo onde se ia barrar a manteiga que assim se derretia imediatamente e as torradas ficavam realmente melhores.
A lógica do meu pai era fundamentada o que me leva a pensar que ele observava e reflectia sobre tudo, até sobre as rotinas quotidianas.
Tinha autorização e a incumbência de trinchar a carne.



Também era muitas vezes chamado à cozinha quando a maionese talhava, o que acontecia amiúde, e era preciso salvá-la.
Tinha tendência para empolgar-se com a compra de pequenos electrodomésticos e utensílios que facilitassem as tarefas ou obtivessem melhores resultados na cozinha. Enquanto ele se perdia nas lojas, a minha mãe obstava as novas tecnologias.
Herdei dele esta faceta e estes gostos, não tenho dúvidas.