segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Férias de verão na Ericeira

As férias grandes de verão eram mesmo grandes. 
Até aos 10 anos foram sempre dois meses na Ericeira. Com a família do coração, tios e tias, primos e primas, avós, a minha irmã claro, e os meus pais que lá iam passar uns fins de semana e mais alguns dias às vezes.
Tantas recordações... 
Sempre o mesmo grupo de amigos, as matinés infantis aos domingos, as furnas onde havia viveiros de lagostas e muitos buracos onde o mar subia vociferante e que deixavam a minha avó A apavorada com receio que lá caíssemos nas nossas brincadeiras de crianças, o cheiro intensamente iodado do mar, o Parque de Santa Marta com o mini golfe, as piscinas de mar na Baleia quando a maré estava baixa. 
A Praça da Républica mais conhecida por Jogo da Bola onde aos fins de semana de manhã se instalavam uns artesãos com um maçarico a criar figuras, bonecos e frasquinhos de vidro colorido, e eu ficava fascinada a ver a arte do vidro soprado e moldado no fogo.
Tal era o encanto que muitos anos depois fiz uma visita muito especial na Marinha Grande... mas é outra história e fica para contar uma outra vez.





Quando estavam marés vivas ou os dias amanheciam muito nublados fazíamos passeatas e piqueniques nas redondezas.
Às vezes íamos para a praia na Foz do Lizandro onde andávamos de barco a remos.
Também íamos à Praia das Maçãs, ao Vimeiro e a Sintra onde se compravam Queijadas e Travesseiros na Piriquita e visitávamos o Palácio da Pena que a minha avó A adorava.
Sempre que lanchávamos numa pastelaria eu pedia uma Laranjina C e uma torrada ou um queque daqueles com formato de flor e com as pontinhas caramelizadas.
Na altura não era gulosa por doces e não apreciava os bolos de pastelaria, sobretudo aqueles com cremes.



Na casa Gama, para além dos queques, só havia bolinhos secos e biscoitos que a minha avó comprava para levar para casa.
Na praia eram as bolas de berlim e as batatas fritas. Claro que eu preferia as segundas. 
Eu sei que quem me conhece agora custa-lhe a acreditar mas é verdade, só comecei a gostar mesmo de doces já bem crescida.


sábado, 24 de janeiro de 2015

O bolo da minha vida

O bolo de aniversário da minha vida é o colchão da noiva.
É uma receita das mulheres da minha família paterna, a avó Q e as tias prendadas.
Mas a minha mãe é que tinha as formas perfeitas para o fazer, digo tinha porque apoderei-me delas há muitos anos.
São três formas redondas com as dimensões perfeitas para fazer o bolo em três camadas, recheadas e cobertas com chantilly.






Com a minha mania de inventar fui fazendo diferentes apresentações.
Numa determinada época cobria-o no fim com um molho de chocolate brilhante a escorrer pelos lados.
Às vezes decorava-o com morangos, toda a gente sabe como combinam bem os morangos e o chantilly.
Mais tarde tornei-o perfeito acrescentando doce de ovos.



Toda a vida me lembro de o fazer para o meu aniversário e o dos meus amores, para além de outras festas e sempre que me pediam.
A receita original dizia para cozer a massa num tabuleiro rectangular, cortar ao meio e sobrepor as metades fazendo um bolo de duas camadas altas.
Mas o bolo com as três camadas finas faz toda a diferença.
Além disso, o segredo deste bolo está também na massa leve e fofa. 
E um segredo é um segredo, por isso nada mais digo.
Se quiserem provar é só pedir ;-)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Os bolos de natas da avó Q

Ao recordar a avó Q, mãe do meu pai, lembro-me logo das festas de família. 
A avó Q era muito pequenina, mas era uma matriarca poderosa com 7 filhos. Ficou viúva quando o mais novo tinha apenas 8 anos, o meu pai. 
Dizem que era autoritária e com um feitio difícil, mas na minha memória era uma velhinha enérgica que cheirava a álcool canforado e fazia doces deliciosos.





Por exemplo, o seu aniversário a 8 de Dezembro, feriado nacional, era um acontecimento e uma tradição familiar.
A comida era confeccionada com esmero e o convívio à mesa um júbilo.
Era sempre casa cheia.
Enquanto criança lembro-me dos seus bolos de natas que havia em todas as festas e que eu devorava quase compulsivamente. Os maravilhosos bolos eram feitos com natas caseiras e isso fazia toda a diferença.
Naquele tempo comprava-se leite do dia, inteiro e fresco, em garrafas de vidro. 
Era costume ferver o leite durante vários minutos em lume o mais brando possível, para matar as bactérias nocivas. Neste processo formava-se à superfície uma bela camada de nata gorda e cremosa que depois de fria era guardada no frigorífico dentro de uma tigela com umas pedrinhas de sal por cima. Todos os dias se juntavam mais natas e escorria-se o soro que também era aproveitado. 
A tigela cheia era a medida padrão na receita dos bolos de natas.

É na cozinha que se revela a minha paixão e minha alegria e aqui hei-de mostrar como estas recordações são inspiradoras.