domingo, 15 de março de 2015

Primeiro desafio culinário

Depois, nas férias de verão, começámos a ir para outras praias Sesimbra, Praia da Luz, Manta Rota e o esquema já era diferente. A miudagem ficava o tempo todo, geralmente um mês, e os adultos iam-se revezando conforme os compromissos de trabalho.
No verão dos meus 17 anos, depois de passar um mês na Praia da Luz fui, com outros tios e primos, mais duas semanas para a Manta Rota.
Nesse ano eu estava super bronzeada, mesmo morena, de tanto sol que apanhei.
Não me recordo porquê, pois nunca tive o hábito de me gabarolar mas a fama das minhas lulas recheadas fez com que num belo dia eu fosse desafiada a fazer o almoço.
A compra dos ingredientes foi feita no mercado ao pé da praia, tudo fresquíssimo.
E fomos para a cozinha, eu e as minhas tias.
Eu era a chefe e elas muito queridas ajudavam a picar as cebola, os alho, a pelar  tomate, uma trabalheira porque o prato é complicado e a quantidade era muita, para dez pessoas.
E o almoço tardava pois o recheio faz-se primeiro, depois enche-se as lulas e volta-se ao princípio de outra tomatada. Eu orientava as tias, tomava decisões, calculava as quantidades e os tempos, eu temperava e juntava os "pózinhos de perlimpimpim" como ainda costumo dizer.
E o almoço tardava mas já cheirava bem. E enquanto as lulas apuravam fizemos o puré de batata à minha maneira e uma grande salada de alface.
Entretanto a miudagem, a prima E e os homens chegaram da praia.
O meu primo JM, trocista como só ele, começou logo a dizer à mulher para lhe preparar qualquer coisa para comer porque não confiava na minha falta de habilitações para cozinhar e que a comida não ía ficar capaz, e isto e mais aquilo, e não se calava com a chacota.
Se eu não o conhecesse de ginjeira, teria ficado ofendida, mas assim fiquei apenas ligeiramente melindrada e enchi-me de brios para que tudo ficasse perfeito.
E ficou.
As lulas tenrinhas, doces e picantes, mesmo saborosas. 
O puré com a consistência certa acompanhava e acolhia o molho das lulas voluptuosamente. 
A salada bem temperada refrescava o prato. Perfeito.
Todos comeram satisfeitos e repetiram a dose elogiando o meu jeito precoce para a cozinha.
O meu primo JM que já tinha comido uma sandes, sentado na cadeira de balouço troçava ostensivamente e tardava em vir para a mesa.
Por fim, após grande insistência das tias e da prima E, sua mulher, lá se sentou à frente de um prato servido com parcimónia e provou, degustou e comeu, e olhou para mim com uma expressão de satisfação e espanto que nunca mais esqueço.
E quis repetir mas já não havia mais. 
Ah! Ah! Ah!



Sem comentários:

Enviar um comentário